Pages

Oportunidade do estágio exige responsabilidade


O começo da vida acadêmica é, para muitos, o início da vida profissional. A tendência é que grande parte dos alunos já comece a se preocupar com a prática da profissão escolhida. Ainda que cercado de laboratórios e de atividades que simulem o dia a dia do ofício, nada substitui o contato com o mundo real. E isso mora no imaginário de quase todo estudante nos corredores das faculdades, já que um bom estágio é privilégio de poucos.

Diante dessa realidade, em 2008 foi promulgada a Lei 11.788/08, que define o estágio como “o ato educativo escolar que seja supervisionado pela instituição de ensino, desde que desenvolvido no ambiente de trabalho, visando à preparação do estagiário para a vida profissional futura”. Essa lei foi editada com o intuito de cobrir uma série de lacunas deixadas pela legislação antiga, de 1977, que causava desde pequenas fraudes até vínculos empregatícios mascarados. Os estagiários acabavam quase sempre se tornando auxiliares administrativos: os famosos meninos e meninas da xerox.

Com a conjuntura econômica do novo milênio, o estágio virou febre entre as empresas, que mesmo sob a égide da nova lei, deturpam a verdadeira finalidade do processo incorrendo em dois problemas: não recolher os impostos devidos e não pagar o salário-base legal para cada atividade profissional.

O estágio não caracteriza vínculo empregatício e por isso mesmo não deve ter ares de emprego. É uma extensão prática da sala de aula, onde o orientado tem contato com as tarefas cotidianas do ofício escolhido, sempre dividindo a responsabilidade com o orientador. O que rege a relação entre estagiário e empresa é o termo de compromisso firmado entre as partes, que muitas vezes é lido desatentamente pelo estudante no afã de conseguir a sonhada vaga.

Caso o concedente do estágio não respeite a legislação ou o termo de compromisso do estágio, este gerará vínculo empregatício, tornando oficiais todos os encargos da legislação trabalhista e previdenciária, além da penalidade de não poder receber novos estagiários por dois anos.

Na visão do professor universitário Carlos Castro Andrade, diretor do Centro de Integração Empresa Escola, o estágio é “uma forma de aliar o ímpeto do estudante à experiência dos que já estão na área”. E completou: ”Se essas forças forem bem administradas, no final, todos saem ganhando”.

O advogado Richard Silva, 29 anos, conta que grande parte da sua preparação profissional veio do estágio. “Comecei ainda no terceiro (ano de faculdade) e fui até o quinto. Os estagiários fazem tudo que os já formados fazem, então é uma escola de verdade. De escritórios a repartições públicas, a figura do aprendiz sempre está lá. Inclusive, talvez se aprenda mais na prática do que na teoria”.

 Para o jornalista Armando Gomes, o estagiário é uma figura necessária, o próprio mercado já conta com ele e está adaptado à sua presença. A exigência e a cobrança devem estar dentro dos limites do conhecimento e da prática que ele possui. Quem estagia não é profissional e seria um absurdo cobrá-lo como se assim fosse. Peres arremata, que “o dia-a-dia de uma empresa pode até contar com o estagiário, mas nunca depender dessa ajuda para funcionar”.

O estudante Alex Ramos, 35 anos, que cursa o último ano de jornalismo, diz que suas experiências com estagio variaram. “Comecei no Cineclube da universidade e, além de os horários serem compatíveis com minha necessidade, meu orientador dava liberdade para que eu atuasse em áreas que tinham a ver com meu perfil. Recentemente fui efetivado, o que me deixou muito feliz e com a sensação de que o estágio realmente me preparou para o mercado”.

Um aluno que não quis se identificar disse que a produção de muitos lugares depende diretamente do estagiário. “Se a gente não vier, o trabalho não sai. E se somos tão imprescindíveis, somos empregados e não estagiários. As broncas são iguais, o trabalho é igual, não há muita abertura para tirar as dúvidas. O que nos difere de quem tem carteira assinada?”, reclama.

            Para fugir desse tipo de realidade, há uma importante dica a ser seguida: avaliar com muito critério o contrato do estágio e, de preferência, envolver uma agência integradora - como é o caso do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE - no processo. Estágio não é sinônimo de mão de obra barata.

Na UNISANTA, todo o processo é dirigido com bastante cuidado pelo professor Luiz Vidal de Negreiros, que coordena um departamento chamado Universidade Empresa Estágios. Nele, há estreita ligação com empresas de diversos segmentos, que vão da Baixada Santista, passando pelo ABC, até a Grande São Paulo. Inclusive, para que o processo seja ainda mais seguro, há parceria firmada com entidades integradoras de estágio bastante reconhecidas, como o já citado Centro de Integração Empresa e Escola – CIEE, Associação Brasileira de Emprego e Estágio – ABRE, Nube Estágios, entre outros.


O estágio, se feito com seriedade e rigidez, pode contribuir para o dia-a-dia da empresa e para o futuro do orientado. Mas, como a relação de forças entre ambos é desproporcional, cabe ao estagiário estar sempre atento, fiscalizando a própria rotina de trabalho e, como uma esponja intelectual, absorver tudo o que possa lhe ser útil.

Texto e foto: Fábio Peres 

0 comentários: