Como a circulação de informação nas redes mudou a cara das campanhas políticas
Trump e Brexit, as maiores reviravoltas políticas
dos últimos tempos, têm uma coisa em comum: a participação da Cambridge
Analytica, empresa que combinava prospecção e análise de dados com comunicação
estratégica para o processo eleitoral. Essa demonstração de força das redes
sociais deve causar mudanças nas campanhas políticas brasileiras para 2018.
O tempo de exposição na TV sempre foi decisivo para
a corrida política. Acordos, arranjos, coligações e todo tipo de engenharia de
coalizão serviam para aumentar a exposição do rosto e das ideias de um
candidato. Mas a capacidade de comunicação personalíssima e individual das
redes sociais oferece um panorama muito mais eficiente para os candidatos.
Andar no bolso do eleitor e falar com ele de forma íntima é uma metralhadora de
possibilidades, basta saber mirar.
Outro fator decisivo é a mudança da legislação
eleitoral, que restringe cada vez mais a utilização das mídias tradicionais,
mas autoriza expressamente o patrocínio de postagens políticas nas redes.
Espera-se que isso cause um remanejamento dos orçamentos, que abandonarão os
impressos e serão depositados no digital.
Dados da IPSOS, empresa multinacional de pesquisa,
dão conta de que 83% dos brasileiros utilizam o Facebook como fonte de
informação e notícias. Esse número ganha ainda mais relevância quando nos
atentamos para as possibilidades que as redes sociais oferecem. Mais do que
informação, permitem interação. Se bem utilizadas, criam uma equação quase
imbatível em termos de convencimento: falar com a pessoa certa, na hora certa e
do jeito certo.
Claro que nem tudo são flores em tempos de
comunicação digital. Os exemplos aqui citados – Brexit e Trump – foram
recheados de fake news, exploração de
preconceitos e teorias da conspiração. Há clara preocupação da justiça
eleitoral com relação a isso. Numa atitude inédita, o Tribunal Superior
Eleitoral – TSE determinou que informações falsas sobre uma presidenciável
fossem removidas da rede. As fake news
acusavam a ex-senadora Marina Silva (Rede) de ter recebido propina da OAS,
Odebrecht, Eike Batista e de estar envolvida na Lava-Jato. Luiz Fux, presidente
do TSE, já declarou que "se o resultado da eleição for fruto de uma fake news capaz destruir a reputação de
um candidato, configura abuso de poder e anula a eleição”.
Kayo Amado, cientista político e pré-candidato ao
legislativo estadual, avalia o momento e pondera: “Me preocupo com as fake news
e sua capacidade de destruir reputações em questão de poucas horas. A difamação
existe desde que o mundo é mundo, mas a força das redes sociais e a desilusão
das pessoas sobre tudo que se relaciona com a política, fizeram com que as
pessoas tomassem como verdade muitas mentiras, sem checagem de fatos”.
Rafael Mendonça, professor
de Ciência Política da University of California, demonstra preocupação com a
anomia das redes sociais. “A democratização da informação é sempre positiva.
Mas as redes sociais ainda precisam de mecanismos para conter as fake news e a difamação. Não adianta
haver livre circulação da informação se ela não for confiável”.
Não há dúvidas, as redes
sociais desempenharão papel importantíssimo nas eleições de 2018. O aumento do
acesso às tecnologias, a mudança de perfil dos políticos e a nova legislação
garantem isso. Mas é importante manter em mente que o ambiente web é uma arma
poderosa, e como toda arma, precisa ser manejado com habilidade e
responsabilidade.
Texto: Fábio Peres
Foto: Internet
Edição de Imagem: Fábio Peres
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