Quanto do escritor existe nas ações e nos
personagens de suas histórias? Talvez este seja um dos problemas para qualquer
escritor: qual o seu limite? O escritor coloca-se diante de uma tela ou de uma
folha de papel crendo na onipotência e liberdade de seu ato. Crê, inclusive,
que tem o domínio de seus personagens, como se fosse um Deus. Diante de uma
folha em branco, qualquer coisa pode ser escrita. Qualquer personagem pode
surgir: defendendo os direitos humanos ou infringindo a lei. Tudo é possível.
Se tudo é possível, seria fácil deduzir que não há
limites para a atividade do escritor. Porém, talvez na primeira frase o escritor
se depare com os limites das palavras. Com a incapacidade de exprimir
sentimentos ou ações da forma que deseja. Narra o limite da existência. Os
limites dos personagens. Os limites do tempo e do espaço. A própria palavra
pode ser o limite de emoções que não podem ser representadas. No limite da
representação. No limite do que somos.
Com os brasileiros lendo cada vez menos, os
escritores atuais não tem tido tantas esperanças para escrever sem ter um foco
de público certo. O escritor e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2016
com seu romance “Rebentar”, Rafael Gallo acredita que os limites de um escritor
são determinados pela própria capacidade de cada autor. “Nós temos
potencialidades limitadas também, não escrevemos os textos que sonhamos em escrever,
mas aqueles que podemos realizar”, comenta o escritor.
Para Gallo, os escritores têm limites da vida com
outras pessoas, como qualquer outra. “É claro que trabalhando com a ficção, um
criador pode dizer coisas que não diria no ‘mundo real’”.
Para André Timm, finalista do Prêmio São Paulo de
Literatura 2017, qualquer escritor está a serviço da ficção e a ficção jamais
pode ser refém de qualquer tipo de imposição que a impeça, que lhe cerceie de
alguma maneira.
“É um efeito colateral ao qual precisamos correr o risco de
estarmos expostos, visto que impor limite à literatura possa minar justamente
um dos papeis da arte, que é o de transgredir, buscar novas perspectivas,
ousar”, diz o autor. André Jorge Catalan Casagrande, autor de “A Utópica Teresevile”,
acredita que a limitação de um escritor esteja em suas leituras. Quanto menos
um escritor tiver conhecimento em leituras, mais limitada será a sua escrita e
sua percepção para escrever um livro.
Texto: Marcelo Lopes
Foto: André Timm
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