Salvamento e conscientização estão na mira do Projeto Biopesca
Tudo teve início em 1998 quando a recém-formada bióloga Carolina
Bertozzi recebeu um telefonema no meio da noite. Era um conhecido dela, de
Praia Grande, que havia capturado em sua rede de pesca um “peixe” muito grande,
já sem vida, fora dos padrões. Morando em São Paulo, Carolina perguntou ao
pescador se não seria possível guardá-lo em um freezer até o dia seguinte,
quando ela desceria a serra. Ele respondeu que não cabia. Diante disso, a
bióloga veio ao litoral ainda de madrugada. O tal “peixe” era na verdade uma
toninha, espécie de golfinho pequeno, muito comum no litoral paulista.
Diante desse achado, Carolina teve o primeiro contato real com o
problema das toninhas que acabam presas nas redes de pesca. Por serem
mamíferos, elas precisam subir à tona de tempos em tempos para respirar. Quando
ficam presas nessas redes, e também devido a sua anatomia, acabam muitas vezes
morrendo afogadas. Dessa forma, a bióloga mudou para Praia Grande e passou a
monitorar e recolher dados sobre esses animais junto aos pescadores artesanais,
de quem foi conquistando a confiança aos poucos. Todo esse material, além de
ter sido usado em seu mestrado e doutorado, também foi a base do Instituto
Biopesca.
Trabalho em quatro cidades
O Instituto Biopesca é uma ONG que teve sua fundação oficial em 2002.
Hoje em dia não são só as toninhas que merecem a atenção do Instituto.
Tartarugas, mamíferos marinhos e aves locais e migratórias são alvo da
conservação.
Segundo o coordenador do Biopesca, Rodrigo del Rio do Valle, eles
participam de um monitoramento de praias coordenado pela Universidade do Vale
do Itajaí, em Santa Catarina. Diariamente, as faixas de areia de quatro
municípios (Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe) são percorridas em
busca desses animais. Os que são encontrados mortos são encaminhados para a
base de pesquisas da ONG, no bairro Canto do Forte, em Praia Grande, e lá mesmo
é realizada a necropsia. Os que são achados debilitados são levados para uma
outra instituição no Guarujá. Já os encontrados em bom estado são apenas
monitorados, até para que a população não se aproxime.
O Biopesca recebe apoio da Prefeitura de Praia Grande (foi considerado
de utilidade púbica) e também presta serviços à Petrobrás (pela exploração de
petróleo na Bacia de Santos, a Petrobrás realiza ações condicionantes
regulamentadas pelo IBAMA). Além do monitoramento de praias, eles fazem
exposições, apresentações em escolas e conscientização da população em geral.
Já a conscientização dos pescadores é realizada por meio do Projeto Pescador
Amigo, que visa à aproximação com esses trabalhadores para que possam informar
quando, de forma incidental, um animal é capturado, ou mesmo tomando medidas
para evitar esses acontecimentos.
Por Esther Zancan
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