Didi Gomes e Preta Rara são duas cantoras negras da cidade de Santos. Nesta entrevista, elas soltam a voz em uma conversa sobre música, machismo e preconceito
O
Samba me chamou
Didi
Gomes como é conhecida, ou Maria Edith, seu nome de batismo, diz que o gosto
musical vem do choro. “Sou nascida e criada em um ambiente totalmente adulto,
não tive uma infância normal e sou filha única”.
Com
uma carreira consolidada nas rodas de samba, Didi diz que muita coisa mudou
desde sua adolescência. “Em muitos lugares onde eu ia quando era adolescente, a
roda era estritamente de homens. Hoje em dia já vejo mulheres tocando. E o
melhor é que elas tocam de tudo, todos os instrumentos musicais que você possa
imaginar”.
Apesar
de ter sua voz muito comparada com a de Elis Regina, a própria Didi acha a
comparação um exagero. “Ouço Elis desde os meus seis anos e simplesmente adoro.
A primeira música que me inspirou a cantar foi Águas de março, talvez porque eu
seja do signo de Peixes e apaixonada pelo meu mês, então, cresci cantando esta
e outras músicas dela. Com isso, as pessoas fazem muitas comparações, inclusive
com a filha Maria Rita. Eu realmente agradeço, mas não acho parecido”.
Inspiração, papel e
caneta na mão
De turbante e batom
azul para a entrevista, é nítido que Joyce Fernandes, conhecida como Preta
Rara, veio para balançar as estruturas e marcar sua geração através da luta e
do movimento hip hop. Sua vontade de quebrar paradigmas é clara.
A paixão de Preta pelo rap é antiga. Foi herdada do pai, que escutava black music. “A música está presente na minha vida desde 1985”, conta. Aos sete anos começou a compor e não saiu mais desse universo.
A paixão de Preta pelo rap é antiga. Foi herdada do pai, que escutava black music. “A música está presente na minha vida desde 1985”, conta. Aos sete anos começou a compor e não saiu mais desse universo.
Apesar de conhecida no meio da música e trabalhando como rapper há mais de dez anos, Preta ainda é alvo de preconceito. “É um universo muito machista, cheio de opressões”, desabafa.
Ao mesmo tempo em que tenta peitar o preconceito, com suas canções, se liberta. “Por meio da música, me aceitei como mulher negra e gorda. Costumo afirmar que em tudo que faço ou sempre fiz, a música esteve muito presente”.
Sem desafinar, Preta abre um sorriso largo para contar da sua volta por cima. “ A maior dificuldade que enfrento é por ser mulher preta. Em todos os lugares a gente tem que provar que sabe fazer. Algumas vezes chego para fazer um show e tenho que usar o DJ da casa. Todos conseguem cantar, mas quando chega na minha vez, o meu som é o pior, o microfone começa a pipocar, não acham minha base instrumental. Infelizmente passo por isso”.
A cantora também é professora de História e dá aula para crianças. Porém, apesar de amar ser professora, sonha um dia em poder viver só da música. “A quantidade de shows que tenho hoje supera o meu salário de professora, mas ainda tenho um pé atrás de largar tudo e me arriscar. Querendo ou não, é um salário certo todo mês e o mundo do rap é bem difícil”.
Preta Rara também é uma representante do movimento feminista na Baixada Santista. Para a rapper, as mulheres não devem se calar. “Muitas mulheres aturam opressão todos os dias e, se não fosse o feminismo para me alertar, acharia que isso é normal”.
Ela pretende que suas músicas sejam divulgadas por todo o Brasil. “Minhas composições estão tocando bastante em algumas rádios de Moçambique e Angola, então daqui alguns anos espero já ter feito algum show lá”.
0 comentários: