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Rádio é mídia de comunicação do passado, presente e futuro jornalístico


Aquela imagem do radinho de pilha ao lado da dona de casa, enquanto ela faz o almoço, embora antiga, ainda se mantém. A descrição do jornalista Agostinho Teixeira sobre a experiência dos milhões de ouvintes que acompanham diariamente o trabalho dele na Rádio Bandeirantes existe. Vêm de um passado em que era muito mais frequente e caminha para um futuro certo. “O pequeno rádio de pilha deu lugar ao aplicativo no celular, mas a emissora preferida continua sempre perto do ouvinte em casa, no carro e no trabalho”, diz.

Agostinho é repórter de rádio desde que entrou na profissão. Só na Rádio Bandeirantes atua desde 1996.  Isso deve ser considerado quando se fala do amor dele por esta mídia de comunicação. Mas, se fizermos viagem ao passado, presente e ao futuro da profissão de jornalista, quem merece reconhecimento pela atuação realmente são os radialistas.

Em um período de incertezas no jornalismo, em que são debatidos modelos de negócio, estilos de escrita e com profissionais sendo demitidos em massa, o rádio segue como maior exemplo de mídia que se reinventou. Permanece no mercado, tem público fiel e, com a convergência midiática, tornou-se o meio de comunicação mais abrangente e preferido dos brasileiros, segundo o levantamento feito pelo Instituto Ibope Media este ano.

A pesquisa indica que, diariamente, 52 milhões de cidadãos são atingidos pelo veículo, que sofre desde meados da década de 1950 com críticas negativas após a aparição da televisão e atualmente pela Internet. Nesse sentido, Teixeira vê que o surgimento da Internet é simular ao aparecimento da televisão: ambas vieram para somar e não para anular a antecessora.

Com a possibilidade de registro em fotos e vídeos que os smartphones proporcionaram aos usuários de redes sociais, a necessidade da atuação jornalística tem sido por vezes questionada. Porém, segundo Teixeira, a atuação do profissional ainda é fundamental, principalmente em tempos de fake news.

 “Existe muita informação importante circulando todos os dias pelas redes sociais. No entanto, o que é divulgado pelo Facebook ou WhatsApp não é jornalismo. O jornalista bem preparado, isento e levando em conta o interesse social, é quem está capacitado para fazer com que um dado, postado numa rede social, ganhe dimensão de ‘informação jornalística’ e aí provoque as consequências que tem que provocar”, defende.

Na visão de Teixeira, atualmente a população brasileira leva muito mais em conta o que vê nas redes sociais que os conteúdos gerados pelos veículos tradicionais de comunicação. Por isso, acredita que a imprensa brasileira precisa se reinventar na forma e no conteúdo, para ficar “mais atraente” e então tratar de assuntos que realmente interessem ao cidadão comum. “O jornalismo precisa urgentemente reconquistar o espaço que perdeu”, afirma.

Por isso, mesmo sendo um dos meios de comunicação mais antigos, o rádio mantém uma relação próxima com a essência do jornalismo. Agostinho exemplifica isso com a ameaça de desmoronamento do viaduto na Marginal Pinheiros. “O radiojornalismo continua privilegiando questões que são mais locais, que envolvem particularmente os assuntos da cidade e que, portanto, mexem diretamente com a vida do cidadão. Nessas horas, o rádio ressurge com toda a sua força e é possível medir isso claramente nos números da audiência diária das grandes emissoras”, afirma.

Henrique Guedes é estudante de jornalismo e trabalha como locutor esportivo na Rádio Esporte Clube. A vontade em atuar no mercado surgiu na época em que era ouvinte de futebol. Agora que faz parte do meio, percebe que o mídia está sendo inserida na Internet de forma eficiente. “O rádio acolheu a tecnologia e usou a seu favor sem precisar mudar sua linguagem ou estrutura. Se houve mudança, ela foi mínima e para melhor”, diz.

Em 2019, Guedes passa da condição de aluno para a de profissional. A vontade que tem é a de atuar com esporte, independentemente da mídia que ofereça oportunidade. Para Teixeira, o sentimento do jovem estudante que se forma hoje numa faculdade de Jornalismo continua o mesmo que o dele, formado há 30 anos. Vê com bons olhos a vontade que motiva os jovens jornalistas a fazerem a diferença na sociedade.

“O dia-a-dia na redação acaba mostrando que as coisas são bem mais difíceis na prática, mas feliz do jornalista que mesmo diante dos obstáculos e depois de anos de carreira, conseguem ainda manter o mesmo empenho e vigor”, declara Agostinho.

Mesmo com tantas mudanças na profissão, Teixeira ainda a recomenda a estudantes que estão em busca de uma carreira. A dica que dá, entretanto, é que o jornalista precisa diariamente mostrar os velhos assuntos tratando-os de forma diferente, inusitada e atraente, sem descuidar da precisão do fato. “Conquista espaço no mercado aquele que consegue fazer o que todo mundo faz de um jeito diferente, ou então quem consegue descobrir algo que ninguém sabia. Dá muito mais trabalho e exige empenho redobrado, mas vale muito à pena”, afirma.

Texto: Isabella Chiaradia
Foto: Divulgação 

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