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Quais os motivos para militares serem eleitos democraticamente?


Nas manifestações de rua em 2013, alguns grupos pediam por intervenção militar. No pleito realizado no ano seguinte, apenas 18 candidatos representavam o grupo e foram eleitos. De lá pra cá, os militares descobriram o caminho democrático como garantia de posicionamento politico.

Nas eleições majoritárias deste ano, 73 militares foram eleitos para cargos nas assembleias estaduais, na Câmara Federal e para o Senado, além da eleição do capitão do Exército Jair Bolsonaro para presidente da República e do seu vice, general Hamilton Mourão.

O cientista político Marcelo Di Giuseppe, do Instituto Brasileiro de Estudos Sociais, Política e Estatística (Ibespe) acredita que o aumento no número de militares eleitos não significa necessariamente que as pessoas querem a volta do regime militar, mas porque querem alguém com discurso mais forte em relação à Segurança Pública.

“Fizemos uma pesquisa que perguntava se a pessoa prefere estar desempregada e ter a segurança de buscar um emprego ou ter um emprego mas ter medo de sair na rua. A maioria preferiu a primeira opção, uma vez que o desemprego é uma situação momentânea, mas segurança não”, declara Di Giuseppe. 

Para o sociólogo Célio Nori, o caminho para a eleição de militares começou a ser trilhado com as manifestações de rua em 2013. “Foi a revolta daqueles que não estavam envolvidos nas instâncias de poder. Em pessoas que, por uma série de situações, carências, opressões que sofriam, acabaram se rebelando de uma forma anárquica. E os partidos progressistas não souberam lidar com isso. Acabou dando margem a um movimento em favor dos militares, em favor daquilo que não existia. Uma espécie de um enfrentamento ao poder”, afirma.

Nori percebe as pessoas anestesiadas e que o medo delas em relação às condições da segurança pública foram captados por Bolsonaro e convertidos em votos. “No começo, os militares não se sentiam representados pelo Bolsonaro, até pelas características amalucadas dele. Mas com o decorrer da campanha, foram vendo que chegava o momento de eles terem novamente uma influência na vida política nacional. Em política, os espaços não ficam desocupados. Sempre vem alguém e ocupa”, declara.

Texto e foto: Vitória Aparecida

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