Fazer cinema negro no Brasil não é fácil. A cara do cinema nacional é a de um homem branco. Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa GEMAA -UERJ analisou as maiores bilheterias nacionais entre 2002 e 2012, de acordo com a Ancine. Homens brancos correspondem a 69% dos roteiristas, 45% do elenco principal e 85% da direção. Já as mulheres negras não estão nas telas de e nem atrás das câmeras. Segundo o estudo, mulheres pretas e pardas apareceram em menos de dois, a cada dez longas-metragens. Além disso, nenhum dos mais de 218 filmes nacionais de maior bilheteria teve uma mulher negra na direção ou como roteirista.
A cineasta Jéssica Queiroz sabe da dificuldades com os editais quando não há nome de grandes produtoras na ficha do audiovisual. Os filmes que ela dirigiu, "Número e Série" e "Vidas de Carolina", foram realizados por meio de um edital do Instituto Criando Asas. Mesmo com a conquista, o recurso financeiro não foi suficiente e teve que contar com a parceria de empresas e colegas. “Na maioria dos editais, o dinheiro vai para produtoras grandes. É difícil captar recursos também e patrocínio, por isso precisamos de ações afirmativas”.
Primeiro curta de Jéssica Queiroz: "Número e Série"
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Já Carol Rodrigues teve a felicidade de vencer um edital para produtores negros temporariamente interrompida. O edital foi embargado por ser considerado racista. Após forte campanha na internet a decisão foi revogada e o projeto pode ser colocado em ação.
“Precisamos dar passos maiores na discussão da democratização na forma de exibição e do acesso ao dinheiro de produção para que nossa profissão seja viável. Precisamos ter mecanismos que consigam alavancar a produção dos idealizadores negros até porque a não estamos em um cenário que competimos de igual para igual”, desabafa.
Curta “A Boneca e o Silêncio” de Carol Rodrigues |
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